Gente: agite antes (e depois) de usar

Se soar pejorativo, não se chateie, não quero ser indelicado. Estamos acostumados a ler essa instrução nos rótulos de remédios, caixas de bebidas como sucos e iogurtes, mas quando atribuída a gente, soa um tanto agressiva não é mesmo?!

Isso é porque não gostamos de encarar “a vida como ela é”. Gente funciona assim ─ quando agitado, motivado ─, provocado a sair da zona de conforto, consegue-se extrair mais vitalidade, empenho, desempenho.

Agitar gente é o remédio para curar todos os problemas do seu negócio, setor, repartição, ONG, instituição. Mas não acredite nem por um minuto que será moleza.

Sem agitação, estímulo, fomento ─ o que se tem é ─ medo de tomar decisão, de encantar, empreender, inovar, surpreender. Ai convive-se com gente apática, sem graça, sem sal, sem vitalidade.

Enquanto profissionais também ─ se não há desafios, metas, ambientes instigantes; intrigantes, as pessoas são robóticas, mecânicas, iguais e desinteressantes.

AGITE O PROFISSIONAL ANTES DE “USÁ-LO”

Todo funcionário deveria ser agitado antes e durante sua jornada profissional, isto é, recomenda-se clarificar as expectativas funcionais de cada individuo que está ou que chega a uma nova companhia.

É essencial conhecer a cultura, visão, missão, estratégia ou como a empresa quer se posicionar no mercado ─ qual o papel de cada indivíduo e principalmente o meu.

As pessoas trabalham anos em uma companhia e estão cheias de dúvidas quanto ao estilo de gestão ou a cara da empresa: anacrônico ou arrojado? Tecnológico ou analógico? Criativo ou conservador?

E o erro é de quem contrata, geralmente oferecem uma integração muito pobre (quando tem) e não há clareza quanto ao que se espera do profissional.

Apresentam um contratinho curto, pobre, carente, onde reza basicamente sobre horário, salário e confidencialidade.

Essa seria a hora exata de dizer quais são as reais expectativas:

─ Nós o contratamos para fazer um trabalho, porém, mais importante que isso, nós o contratamos para você pensar, usar seu discernimento para agir segundo o interesse da empresa em todos os momentos. Faça sempre o que tem de ser feito, não espere que lhe peçam (do livro: Faça o que tem que ser feito).

─ Aqui tem muita coisa para melhorar. Contratamos você para que nos ajude a ajustar e renovar os processos; nos traga ideias, sugestões, dicas e críticas;

─ Trabalhe com criatividade e inovação. Mais do que desculpas, nossos profissionais devem trazer soluções para os muitos problemas que surgirão.

Se tudo fica mais claro, na hora da entrevista inclusive, quem está sendo contratado pode decidir se quer mesmo trabalhar na empresa não se assustando e desistindo depois de contratado.

Seria uma maneira de amenizar os choques, acolher quem chega e turbinar o engajamento, já que nem sempre podemos trabalhar com o que amamos. Ou podemos?

FAZER O QUE GOSTA É UMA UTOPIA

Fazer só aquilo que gosta seria uma delicia. Muitos defendem que isso deve ser buscado. Confesso que fui um defensor da tese, entretanto percebi que mesmo trabalhando com o que gostamos teremos que realizar tarefas que nem sempre nos deixam felizes.

Claro que cada vez mais o trabalho está associado à busca de um sentido e de uma relevância pessoal. Todos sonham em fugir do estresse e da frustração profissional e ter um trabalho perfeito ─ bem remunerado, respeitado, estimulante mental e emocionalmente.

Assim desenvolvemos em nosso imaginário um conceito de que para alcançar a realização individual ou a felicidade, é preciso trabalhar somente com aquilo que se gosta.

É legítima essa busca, contudo, a verdade é que nem todo mundo alcança essa utópica esperança e, já que não posso fazer sempre o que gosto, será vital gostar do que faço.

COMO FAZER ALGUÉM GOSTAR DO FAZ?

Pelo trabalho o homem modifica seu próprio meio e pode modificar a si próprio, era isso que dizia o sociólogo Georges Friedmann. O trabalho dignifica o homem.

Por mais romantismo que possamos inserir na ideia de trabalho no fim do dia trata-se de uma relação de compra da força de trabalho ou do tempo do trabalhador.

As empresas que melhor conseguem motivar os talentos mantendo um clima favorável e feliz são aquelas que buscam humanizar os ambientes a as relações ao máximo possível.

O homem precisa encontrar sentido no que faz e tem a necessidade de se sentir valorizado, trabalhando em um ambiente propício a um crescimento pessoal e profissional…

…Boa remuneração, qualidade de vida, possibilidade de crescimento, plano de carreira, sentir-se parte integrante da máquina, elogios, feedbacks, são ações fundamentais para valorização do profissional, mas é necessário algo mais para engajá-lo/agitá-lo…

Queremos pessoas com sentimento de dono, brilho nos olhos, coração no discurso, defensor enérgico dos interesses do negócio, que tem tesão em lutar pela empresa que representa.

Para isso acontecer, ele tem que acreditar que aquilo que faz, agrega valor e dá sentido a própria vida e a vida de outros.

Não vai ser fácil. Quem disse que seria fácil? Avisei lá no início que não seria.

O que disse foi que agitar gente é o remédio para curar todos os problemas, mas não que seria simples. Bem diferente do que agitar frasco de suco ou remédio, gente se sacode por dentro. Tem que atingir o coração, a alma, a mente.

Cada um tem seu estilo, mania, crença, descrença. É papel de um líder nato, um líder sol: aquecer os corações e iluminar os caminhos.

Neste momento estou muito inclinado a discorrer aqui sobre dicas ou conceitos práticos para agitar as pessoas, mas não o farei. Talvez não esteja seguro se os conceitos são funcionais, universais.

Todavia tranquilize-se, tenho uma dica extremante relevante para você começar a pensar em como fazer:

“Se vira”.

O que precisa saber já sabe: tudo que você faz tem haver com gente e, se vai mexer com gente tem que mexer de verdade:

Mexer – Verbo Transitivo Direto: promover a movimentação ou fazer a mistura do interior de qualquer coisa.

“Agite antes de usar”

Até a próxima!

Achiles Rodrigues