Logística de cana de açúcar: como maximizar a eficiência e reduzir os custos do campo a usina [ parte II ]

Agilidade e assertividade na produção e logística de cana de açúcar são diferenciais que impactam diretamente a lucratividade da usina, pois existem usinas realizando um custo de CTT (Corte, Transbordamento e Transporte) de R$ 22,00 por tonelada, enquanto outras gastam R$ 50,00 para a mesma tonelada de cana colhida e transportada.

Qual a mágica?

Não tem mágica.

O que tem é um modelo de gestão de sucesso adotado que está alicerçado em três pilares:

1.   Tecnologia – 2.  Processos – 3.  Pessoas.

Foi com essa afirmação que finalizei o primeiro artigo sobre logística de cana de açúcar. Nele abordei um pouco da história da cana, conceitos de logística, a importância de ciclos e tempos, dimensionamento e outros temas vitais do fabuloso mundo agro.

Perdeu? Sem problemas. Clique aqui ou confira logo abaixo.

https://achilesrodrigues.com.br/logistica-de-cana-de-acucar-eficiencia-e-reducao-dos-custos-do-campo-usina-parte-i/

Nesta segunda parte quero ir direto ao ponto com você e entregar logo de primeira a fórmula para maximizar produtividade, reduzir custos e consequentemente aumentar os lucros.

Um modelo de gestão “tripartitite”: um tripé que se faz necessário por que três quartos das usinas apresentaram produtividades médias por colhedoras abaixo de 490 toneladas por colhedora dia. E ainda pior, um quarto dessas usinas não conseguem ultrapassar a casa dos 350 tons/colhedora/dia.

Mas, mesmo os 25% de usinas que ultrapassam a casa dos 500 tons/colhedora/dia, não tem muito a comemorar, pois ainda estamos falando de produtividades baixas que fazem os custos de CTT se elevarem, visto que no custo total de CTT as colhedoras são responsáveis por aproximadamente 40% do custo total e, se não produzem em seu potencial máximo colabora também para ineficiência de tratores transbordo e caminhões transportadores.

Como falado no primeiro artigo, o CTT (colheita, transbordo e transporte) da cana, é responsável por cerca de 28% dos custos totais de produção. Nesses 28% a correspondência é (poder sofrer variações):

•  40% correspondem à colheita mecanizada;

•  35% corresponde ao transporte;

•  25% ficam na conta do transbordamento.

Com custos também extremamente expressivos e digno de muita atenção, estão as operações de apoio: caminhão comboio, borracharia, prancha, bombeiro, oficina, ônibus, utilitários, área móvel de vivência, entre outros que custam em média 23% do custo total de CTT.

A IMPORTÂNCIA DO CANAVIAL PARA TODA A CADEIA

A decisão sobre como será operacionalizado o CTT é fator de extrema relevância e foco central do presente artigo, mas tão ou mais importante que o referido processo está o cuidado com a longevidade do canavial e aumento do TCH. Etapa que influenciará diretamente na extração da melhor eficiência dos ativos.

Muitos passos devem vir muito antes, pois plantio e colheita andam de mão dadas para implementar gestão de qualidade e aprimoramento de:

  • Manejo varietal;
  • Entomologia;
  • Tratos culturais;
  • Conservação e sistematização de solos.

Este não é o tema central do artigo, entretanto, o canavial é o grande ativo das usinas e implica diretamente em como será o CTT.

O uso de práticas modernas de sucesso e tecnologias fazem enorme diferença e, buscar as melhores práticas de cultivo, tratos e sistematização que diminua a quantidade de manobra (evitando o pisoteio) é a grande sacada para melhor colheitabilidade, redução de custos no CTT e longevidade do canavial.

O TCH (tonelada de cana por hectare) é o que vai garantir melhor produtividade e consequentemente mais cana para colher e assim diluir os custos.

Logo, recuperar a produtividade média dos canaviais, que vem caindo ao longo dos anos, deve ser pauta da agenda principal de qualquer usina.

E para isso será preciso ter uma nova gestão com manejo avançado de variedades de maior potencial biológico com conceitos de ambiência (integração de diversas técnicas nutricionais associadas as de proteção), plantio na hora certa e o uso de todas as tecnologias existentes para tratos.

Após esse cuidado com o canavial, poderemos pensar o CTT e levá-lo aos patamares sonhados. Para isso é vital entender cada particularidade e buscar a adoção de:

  • Colhedoras modernas de maior capacidade;
  • Transbordo gigante de mais de 22 toneladas;
  • Super rodotrens;
  • Tecnologia GPS para aumentar a precisão das operações;
  • Adoção de piloto automático (RTK e RTX);
  • Três turnos de 8 horas e etecetera.

Obviamente, amarradas a todas essas decisões está a realidade e expectativas de cada produtor.

MAXIMIZANDO A EFICIÊNCIA NO CTT E REDUZINDO OS CUSTOS

Depois de falado da importância do canavial e do TCH para a produtividade do CTT, entraremos nos conceitos de melhora de eficiência e consequentemente redução dos custos.

O tripé fundamental para o sucesso de qualquer vertente logística, seja do segmento agrícola ou de qualquer outro:

TECNOLOGIA:

Medir a produtividade dos equipamentos produtivos como colhedoras, transbordos e caminhões via computador de bordo e, se possível em tempo real (sinal GPRS ou satelital) é a melhor forma de reduzir os custos.

Softwares de roteirização, comunicação e sincronização da operação das colhedoras, transbordos e veículos de transporte são vitais. O que serão capazes de evitar ao máximo a ociosidade dos equipamentos produtivos e até reduzir a zero, trazendo ganhos como:

⇨ Acabar com os riscos de fazer da moagem industrial um vídeo game: sobe, baixa, sobe baixa, devido a instabilidade da entrega ou falta de cana-de-açúcar nas moendas e difusores, o que comumente se dá o nome de corte seco, e, é prejudicial para o processo de fabricação;

⇨ Cada colhedora com computador de bordo rodando na velocidade orçada: com seus tempos controlados e maximizados por gestão que aproveita cada oportunidade eleva em mais de 30% a capacidade produtiva. São alavancas de produtividade de colhedoras: TCH x velocidade x tempo produtivo;

⇨ Software que garante o sincronismo entre transbordos e colhedoras através de fila única de transbordo (FUT): a colhedora ao preencher 70% da capacidade do transbordo atual dispara sinal comunicador para o bordo do próximo transbordo da fila, então, ele se desloca até a colhedora enquanto ela finaliza os 30% faltante do transbordo pareado. Isso garante que a colhedora não pare de produzir para esperar outro transbordo parear e minimiza a quantidade de transbordo necessário para atender uma quantidade específica de acolhedora (de 2 transbordos para 1.8 por colhedora);

⇨ Alocação eficiente de caminhões nas frentes de colheita diminuindo de 30 a 40% a quantidade de caminhões: uma vez que se sabe exatamente a produtividade de cada colhedora e transbordo, um algorítimo faz os despachos e computa as chegadas.

PROCESSOS:

Definir e padronizar os processos buscando benchmark no setor em operações de sucesso é muito inteligente. Pois, processos enxutos, bem definidos, escritos e operacionalizados garantem que todos os turnos e unidades sigam as mesmas definições e garantam a melhor utilização da tecnologia.

Processos devem ser testados, medidos e escritos. Logo após isso, deverá ser operacionalizado através de comunicação efetiva e treinamentos. Todos devem saber qual a norma:

⇨ Ciclos e tempos: estamos falando sobre logística e aqui, tempo de fato é dinheiro. Como tratamos no primeiro artigo, entender e padronizar o ciclos de transbordos e caminhões bem como garantir que os tempos orçados sejam cumpridos, garantirão redução rápida dos custos do CTT, pois legitimará a máxima, já surrada e quase clichê, fazer mais com menos;

⇨ Velocidades: são alavancas diretas de produtividade tanto para colhedoras como para transbordos e caminhões, logo, o acompanhamento deve ser hora a hora corrigindo se houver alterações;

⇨ Pátios e processo na usina: no artigo anterior tratei sobre os ciclos, conceito de bate volta, caminhão escravo e estrutura de pátio. O processo interno de entrada do caminhão cheio, saída do vazio, engate, desengate, pesagens, amostragem para atender o órgão que padroniza o preço do ATR (açúcares totais recuperáveis) da cana e o tombamento da cana no hilo deve estar claro e deve ser medido.

⇨ Frentes de colheita: distância ideal e tamanho do malhador (local do transbordamento), layout da frente de corte e toda a dinâmica. Não se deve deixar para que cada líder de frente de colheita decida seu modelo, todas devem ser padronizadas pautado nas melhores práticas.

PESSOAS:

E por último, e sim, o mais importante; são as pessoas. A usina pode ter a melhor e mais moderna tecnologia, os processos mais enxutos e inteligentes, contudo, se não tiver as melhores e mais engajadas pessoas tudo isso não valerá nada.

Costumo dizer que uma empresa não precisa ter as melhores pessoas, mas as pessoas certas para cada posição.

São elas que fazem a tecnologia funcionar, que apontam o código correto no bordo, que usam corretamente o piloto automático (ou não), que andam na velocidade possível e segura, que agilizam o transbordamento, garantem a organização da frente de colheita e do pátio da usina.

Enfim, pessoas movem o negócio e podem reduzir os custos. Invista em treinamento, clima e principalmente em lideranças capazes de motivar, engajar e elevar a moral da equipe.

***

Esse é o grande tripé que pode garantir maior eficiência, qualidade e redução dos custos do CTT, entretanto, tudo isso pode não ser suficiente para chegar ao custo de CTT tão sonhado. O que fazer então?

Tenha uma torre de controle e não uma central de tráfego.

A TORRE DE CONTROLE EM FAVOR DA EFICIÊNCIA

A central de tráfego tem papel de importância ímpar na operação, mas não consegue elevar os níveis operacionais por motivos de autonomia, conhecimento ou falta de aparato tecnológico. Falo isso com todo respeito a essa área vital.

Ela despacha caminhões, controla tempos, informa as densidades, as produtividades, mas, nem sempre tem a visão do todo nem autonomia nas cobranças, capacidade de ajustes das variações do planejamento ou escalonamento de problemas.

Muitos são os pontos que interferem na melhora do desempenho, como alta disponibilidade mecânica dos equipamentos, habilidade dos operadores, planejamento deficiente da colheita, baixa produtividade agrícola dos canaviais, desvio da aderência aos processos, deficiência da equipe, uso errado das tecnologias ou foco da liderança e etc.

Como melhorar então a eficiência logística?

Como já citado: aquisição direta de tecnologia, adoção de gestão à vista, informações em tempo real, poder rápido de execução e escalonamento célere de problemas envolvendo a todo o time estratégico e operacional.

Mas para garantir que tudo isso aconteça, só implementando uma Torre de Controle Logístico.

Ela é um conceito alicerçado em cinco pilares:

1  Planejamento: a torre de controle recebe o sonho da área, ou seja, o planejamento e desdobra as metas com toda a cadeia fazendo o cascateamento (em micro metas) até a base operacional;

2  Processos: define tarefas, donos, tempos, critérios e padroniza tudo;

3  Execução: acompanha a execução de cada ação garantindo que quem vai executar saiba que fazer, quando fazer e em que tempo fazer;

4  Métricas: mede e compara através de relatórios gerenciais e indicadores chaves de performance. Dividindo com todos os envolvidos visando apoiar a tomada de decisão;

5  Melhoria contínua: faz hora a hora, ou em tempo menor, um PDCA (PLAN – planejar, DO – executar, CHECK – verificar e ACT – agir), ou melhor que isso; um SDCA (S de Standard), o ciclo SDCA, segue a mesma linha do PDCA, mas com a diferença de que ao invés de apenas planejar, faz-se a padronização.

A torre de controle busca garantir disciplina operacional e boa execução do trabalho. O que só é possível através de monitoramento e padronização de processos e tarefas.

Mas não quero me prender muito no tema, pois escrevi um artigo dedicado a ele. Clique e confira.

https://achilesrodrigues.com.br/torre-de-controle-logistico-gestao-eficiencia-e-reducao-de-custos-para-sua-operacao-logistica/

Até a próxima!