O transporte de cargas está na UTI e só tem uma maneira de salvá-lo

O transporte tem a função de movimentar pessoas e recursos em prol do bem estar de uma nação. Por trás de cada tecnologia que você utiliza, alimento que consome, viagem que faz, roupa que usa, bebida que bebe, livro que lê, brinquedos e até mesmo a casa que mora; está a logística de transportes.

Vital para a economia de qualquer país, a falta de transporte é capaz de fazer uma nação entrar em colapso em até dois dias. Ainda assim, passa por uma crise sem precedentes.

Desde meados de 2014, a crise econômico/política vem assombrando até aos mais otimistas do setor. 2015 e 2016 foram anos de queda contínua: altos índices de desemprego, baixo consumo da população, redução de investimentos pelas empresas e encolhimento do PIB em mais de 7%.

Assim como todo o setor de serviços, o transporte vinha sofrendo com a desaceleração econômica e a baixa produtividade. O que na prática se traduzia em menos cargas para transportar, consequentemente; caminhões sobravam no mercado.

Nossa esperança estava em 2017. Seria o ano da reviravolta. A previsão dos especialistas em 2016 eram as mais otimistas possíveis: acreditava-se (ainda que timidamente) em trégua política, melhora do PIB, empregabilidade em ascendência, retorno dos investimentos e melhor reação da indústria.

Mas, infelizmente os fantasmas da crise não foram banidos. O PIB não respondeu, as incertezas políticas aumentaram e, a economia se mostrou, e ainda se mostra, muito tímida ante as expectativas dos mais otimistas.

Para a logística de transporte, 2017 está ainda pior que nos anos anteriores. Muitas transportadoras e motoristas autônomos que lutavam para sobreviver, “respirando por canudinho”, não conseguiram se salvar.

Segundo o recadastramento no RNTRC , ouve uma diminuição na casa dos 27% do número de empresas de transporte de cargas quando comparado de 2014 para 2017. O que significa que quase 40 mil empresas deixaram de se registrar.

A GESTÃO QUE FAVORECE O CANIBALISMO

Diante da baixa da demanda e aumento das condições de oferta do mercado, muitos Embarcadores fomentaram o canibalismo entre as empresas de logística e transportes, pagando baixíssimas tarifas de frete.

Um modelo de gestão que não se sustenta a médio e longo prazo: pois sem capital para investir, provedores logísticos vendem seus caminhões, entregam galpões e abandonam o setor. Os que permanecem, sem dinheiro para renovar a frota ─ rodam com veículos sucateados, irregulares e quase sempre, em condição insegura.

RAIO X DA SITUAÇÃO DAS TRANSPORTADORAS

Uma pesquisa realizada em agosto de 2017 pela Ntc&logística em colaboração com a ANTT, e divulgada pela CONET, entrevistou 2.290 empresas transportadoras sobreviventes, no primeiro semestre de 2017. E revelou que:

  1. Ouve queda no faturamento para 70,5% delas;
  2. As receitas diminuíram em 10,32%;
  3. O valor do frete caiu em média 2,98%;
  4. 91% das empresas diminuíram de tamanho;
  5. 54,7% das empresas tem recebido frete com atraso

A pesquisa mostrou também que os principais fatores de contribuição para tal situação foram:

  1. Aumentos de custos, especialmente, as majorações nos últimos 12 meses de salários que chegaram a 4,00%;
  2. Combustível 4,25%;
  3. Despesas administrativas 9,20%;
  4. Baixo volume de carga, provocada pela situação econômica por que passa o país;
  5. O aumento do roubo de carga;
  6. A dificuldade de cobranças de generalidades como frete valor, GRIS – Gerenciamento de Risco, Taxa de Restrição de Trânsito – TRT, dentre outras;
  7. Manutenção 6,58%, veículo 5,61%, lavagem 8,40%, entre outros…

Estão também entre as queixas:

  • O comprometimento do seu faturamento com o aumento cada vez maior de fretes atrasados (14,3% do faturamento, segundo a pesquisa);
  • Defasagem do frete rodoviário na ordem de 20,89% na carga lotação e 7,72% na carga fracionada.

A GESTÃO AINDA É O DIVISOR DE ÁGUAS

Diante de um cenário de crise, os negócios melhor preparados, com visão estratégica de longo prazo e de rápida adaptação às novas exigências do mercado são os que conseguem crescer, inovar e melhorar seu lucros.

A maioria das empresas e gestores falam sobre crise; o que amedronta e paralisa, entretanto, as grandes empresas e gestores de alto nível falam em oportunidades em pensar melhor e fora da caixa para operar e gerir o negócio.

Qual deve ser a preocupação de toda empresa que queira se salvar, e, além disso, crescer?

A resposta é um tripé importante: Gestão de alto nível: com ética, criatividade e inovação. Tecnologia para atender o momento 4.0. E Diversificação do negócio:

1 – Invista em gente:

Tenha os melhores profissionais no seu negócio:

  • Gente que cuida e gosta de gente, com coragem para arriscar e pensar fora da caixa. Logística é parceria, encantamento. Tem que ser sustentável.
  • É preciso ter pessoas que saiba negociar com ética, empatia, inteligência relacional, boa matemática, geográfica e psicologia.

2 – Tecnologia:

Os avanços tecnológicos são os motores das mudanças e transformações na sociedade. Em tempo de indústria e logística 4.0, tecnologia não é uma opção é questão de sobrevivência.

3 – Diversifique o negócio:

Ter apenas um ou dois clientes pode ser perigoso para qualquer negócio, assim como ter mais de 50% de seus resultados vindo de uma só fonte. Coloque seus “ovos” em mais de uma ou duas cestas.

***

Pois bem, estamos ainda em um Brasil de alarmantes 14 milhões de desempregados. A política está longe de se estabilizar, o crescimento projetado para 2018 ainda é tímido e os investidores estão sem confiança.

Não só no setor logístico, mas em todos os outros, ainda faltam profissionais qualificados. Para retomar a confiança faz-se necessário investir em pessoas, nas duas pontas: Embarcador e Transportadora. Planejar o negócio de forma sustentável, acabando com esse canibalismo que prejudica todo o setor e garantindo o status de importância de um setor que é basilar para nossa economia.

Até a próxima!

Achiles Rodrigues